Por diversas vezes ouvimos falar sobre inclusão da criança portadora de necessidades especiais em escolas regulares. Mas, quando conversamos com essas famílias conseguimos mensurar as dificuldades que essas crianças enfrentam não somente na inclusão à escola, mas na sociedade.

Autismo: o conceito de alegria

Em entrevista, a uma das famílias, encontramos Marcela Baldez Honorato Pires Mendonça, cuja profissão, na área de educação, é a de professora. Marcela, é a mãe de Eduardo Baldez Honorato Pires Mendonça, cuja idade é de dez anos. Ele foi diagnosticado com autismo após dois anos e meio de seu nascimento. Também tem outro filho, cujo nome é Bernardo Baldez Honorato Pires Mendonça, de onze anos de idade; ajuda bastante sua mãe nas atividades de Eduardo.

No momento do diagnóstico, Marcela lembra: “Foi um susto muito grande, demoramos um pouco para assimilar as coisas”. No começo, houve bastante complicação em relação ao encontro de profissionais específicos na área. Porém, ao passar do tempo, tudo estava caminhando muito bem. A cada progresso de Eduardo (mais conhecido, por íntimos, como Dudu), era um sorriso estampado no rosto da mãe.


Marcela fica um pouco ansiosa quanto ao futuro de Eduardo em relação às outras pessoas. “Há um preconceito muito grande ainda. As pessoas não entendem ao acharem que os autistas, em geral, são agressivos ao ponto de não haver contato algum com eles. Mas, cada autista é diferente. Eu gosto de falar sobre o Dudu para que todos saibam e conheçam um pouco mais sobre o autismo”, diz Marcela, muito emocionada.Em relação à escola, optaram pelo ensino regular, pela própria orientação médica. Por ter muita sensibilidade ao som, Dudu precisa de proteção nos ouvidos em lugares barulhentos. Porém, sua adaptação na escola foi ótima, apesar de ser um local muito agitado. No colégio onde estuda, Eduardo possui um currículo diferenciado para ele; também, sempre tem um acompanhamento de profissionais dispostos a ajudá-lo.

A capacidade de comunicação de Dudu é excelente. Ele, segundo Marcela, passando nas ruas, caminhando com sua mãe, cumprimenta todos os seus colegas. Esse progresso de Dudu ocorreu devido às terapias do Instituto de Pesquisa Ann Sullivan em Engenho Novo, mas fechou. Neste, os métodos de ensino eram muito bons, segundo ela. O desenvolvimento dele ocorre, também, devido ao tratamento com fonoaudiólogo e pedagogo.

Dudu encanta a todos que o conhecem. É uma criança divertida e alegre. Assim como todos os autistas, ama sua imaginação. E, apesar de estar em “seu mundo” corriqueiramente, sempre arranja um tempo para fazer-nos sorrir e ensinar-nos a viver cada dia bem devagar, plantando amor por onde passarmos.

No final da entrevista, Eduardo nos surpreende ao tirar uma foto de sua mãe. Pedindo-nos a câmera, consegue focar em seu rosto perfeitamente.

Eternidade especial

Em entrevista à segunda família, encontramos Dalete Duarte Sales, servidora pública e Marco Antônio Nascimento Sales, psicólogo, pais de Samir Arom Duarte Sales. Samir nasceu no dia 12 de abril de 1986. Ao nascer, teve uma encefalopatia grave, em função do parto de fórceps que gerou uma lesão no lóbulo frontal direito.

Por conta disto, foram gerados déficit cognitivo, dificuldade motora e outras séries de complicações. Foi diagnosticado com tais necessidades, após um ano e seis meses, aproximadamente, de seu nascimento.

Dalete, diz “O nascimento do Samir, nos trouxe um cuidado especial para com ele”. Após os tratamentos desenvolveu bastante. Samir era uma criança alegre e muito simpática. Marco, seu pai, ressalta “A principal questão dele era, o desenvolvimento psicomotor e cognitivo; pois, ele era muito divertido e engraçado, também”. Os pais dizem que sua maior dificuldade era a locomoção à procura de profissionais para ele. Como Samir precisava de acompanhamentos, eles sempre recorriam a vários médicos em locais distintos. E, consequentemente isso se tornava complicado.

Samir sempre estudou em escola para crianças portadoras de necessidades especiais, com exceção a um curto período em que ficou em uma escola regular com salas específicas de inclusão. No maior período de sua vida acadêmica ele estudou no CIESP Castorina Faria Lima no Monte Líbano. Esta, frequentada somente por crianças com necessidades especiais.

Por ser uma criança muito esperta, Samir se dava bem com todos ao seu redor, apesar de suas limitações. Aos dez anos, aproximadamente, começou a desenvolver, fortemente, o seu lado social. Ao chegar numa festa, ele sempre era a atração, fazendo com que todos se divertissem. Por sua família frequentar uma igreja evangélica, Samir demonstrava fé na convivência religiosa. Por onde passava, todos o cumprimentavam com muito carinho.


Perguntamos ao pai de Samir - Bacharel em Teologia pela Faculdade Batista Betel, Licenciado e Bacharelado em Psicologia pela Faculdade de Ciências Médicas e Paramédicas Fluminense, formado em Psicoterapia e Fenomenológica Existencial pela Sociedade de Análise Existencial e Psicomaieutica do Rio de Janeiro, pós-graduado em Psicoterapia de Família pela Universidade Cândido Mendes, pós-graduado em Filosofia Contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Curso de Gestão em Conflitos e Climas Organizacional pela Fundação Getúlio Vargas -, sobre sua opinião no que diz respeito à inclusão da criança especial em uma escola regular.

Marco respondeu-nos, aberta e perfeitamente, sobre tal questão. Ele concorda com o fato da “inclusão errônea” que o estado visa. O pai, diz “A inclusão é um processo que deve ser reavaliado no que diz respeito à criança especial, seja qual for sua necessidade; pois, há uma dificuldade de incluir, efetivamente, tais crianças em uma escola regular”.

A opinião do psicólogo Marco Antônio abrange a questão política, com a qual a inclusão tem sido conceituada. “A necessidade de se ter um centro de educação especial é uma realidade, porém, os governantes atuais não querem isso, porque um centro de educação especial custa muito caro”. Ele também cita que, para um bom funcionamento das escolas próprias à crianças portadoras de necessidades especiais, precisa haver uma diversidade de profissionais que tenham capacidade e formação para trabalhar com crianças portadoras de tais necessidades. Marco, diz “Toda essa minha carreira, eu agradeço ao Samir. Tudo que estudei foi por causa dele”. Inclusive, o tema de sua monografia foi “O impacto da excepcionalidade dentro da família”. Ou seja, seu filho serviu de inspiração para o estudo e sucesso de seu pai. No dia 06 de janeiro de 2014 Samir faleceu após alguns poucos minutos internado na UTI da Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima, em Nova Iguaçu.

O irmão de Samir, Matheus, sempre o ajudou muito. Assim como era para todos os que o conheciam, era também para com seu irmão. Ambos amavam estar juntos. Eram muito ligados. Atualmente, mesmo que a saudade permaneça nos corações, a memória ainda guarda com carinho e amor, as belas lembranças jamais esquecidas do menino especial Samir Arom Duarte Sales.

Matéria feita por Maria Fernanda Candido, Revisada por Nicole Pires.