Você poderia falar mais sobre a sua formação, sua carreira e suas experiências profissionais?
Eu sou formado em Geografia. Fiz o ensino médio em Friburgo, em um Colégio Alemão. Me formei na Universidade Federal Fluminense (UFF), fui ligado a história e depois me distanciei dessa área. Sou professor de geografia, comecei a trabalhar na Fundação Getúlio Vargas, em uma escola experimental em Friburgo. Depois fui para a França, onde tive cursos sobre ensino médio e logo a seguir voltei para o Centro Educacional de Niterói, também uma Escola Experimental. Passei muito tempo lá! Fiz seiscentas excursões com meus alunos, visitei Cuba três vezes, visitei também a Argentina, o Paraguai, Uruguai, fui à Portugal, à Espanha. Fiz um curso da UNESCO na Argentina de educação, depois eu fui secretário de educação no município de Bom Jardim, que é o município onde nasci e implementei uma série de medidas mais avançadas, por isso não agradei muito aos políticos, eles não aceitavam muito bem. 
Depois voltei a dar aula no Liceu Nilo Peçanha, onde eu acabei de me aposentar. Minha aposentadoria veio com 50 anos de trabalho e 70 de idade.

Hoje, estou no Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, organizando a biblioteca, as pesquisas sobre Niterói, São Gonçalo, Região Metropolitana, dos livros a gente tem 6.000 obras sobre, e eu estou muito envolvido com aquilo, dando cursos, levo as pessoas para conhecer a cidade e sempre que eu posso, viajo. Estou planejando ir à Santa Catarina e ao Espírito Santo, por convites de ex alunos. Meu filho é delegado no Espírito Santo e minha filha está pretendendo ir para a Arábia Saudita, ela é cirurgiã plástica, e se ela realmente for, eu também vou dar uma chegada lá naquela terra de tanto ouro! Ainda tenho muita vontade de participar da política, não a partidária, que cansa demasiadamente.

Então, qual a experiência que você tem com 50 anos de magistério, com seus ex- alunos, o que você acha que eles te passaram, te acrescentaram no seu jeito e na sua conduta?
Eles me mostraram que era preciso um professor, que tivesse conhecimento deles, por isso fiz seiscentas excursões e acampei com eles, porque aí eu conheci meus alunos. Na sala de aula você conhece muito superficialmente, é preciso você sair, você ir na realidade, entrevistar o povo na rua, o operário na fábrica, é preciso você ir ao show, ao cinema, então, eles me ensinaram isso. Lênin, o líder da Revolução Russa, dizia "que era preciso a teoria, ela é muito importante, mas a prática é o fundamental".

Eu vivi isso, sou um professor muito mais de prática do que teoria. Com Milton Santos, em Cuba, eu passei uma noite conversando com ele sobre Geografia, ele foi o maior geógrafo brasileiro e ele me disse "Poxa Heraldo, você tem uma experiência interessante, que é a experiência de acampar em cima do cocô de boi, descer a cachoeira, entrar em uma favela, conversar com as pessoas e levantar as reivindicações dela, enquanto estão colocando pneu na rua, por que estão colocando pneus?"

Então a geografia para mim sempre foi isso, uma vírgula e os alunos sempre foram meus grandes monitores, eu já não monitorava quase nada a partir do meu décimo ano de magistério, os programas sempre foram feitos pelos alunos, através de projetos, porque aí dá tesão, dá vontade de aprender e não ensinar. Porque, o que você tem para ensinar? O que ensinaram a gente na faculdade? Aquela coisa velha dos livros? Você tem que ter a leitura, tem que ir no atual, então o professor, a revitalização do professor, passa por esse ‘ciclonismo’ o aluno com o professor, é um amor, uma sedução, que eu nunca posso esquecer. Hoje eles fazem uma festa para mim, trezentos alunos em Friburgo uma vez por ano, eles me beijam, me chamam de pai, de avô, de tio, Mas ficou, por quê ficou? Porque eu fui honesto com eles, fui sério com eles, mostrei milhas limitações, porque a gente não é Deus, quantas falhas temos, já fui incompreensível, tantas vezes eu fui grosso. Nós não somos perfeitos, temos mais é que pedir desculpas pelas falhas e isso é o que eu penso. A gente tem mais é que aprender com vocês.


Heraldo Mesquita (esquerda) e Márcio Rabat no evento Thinking About the Future

Esta foi mais uma entrevista para o Intercultural News feita por Italo Medeiros, com revisão de Aline Santos.