Não é de hoje que sabemos que a escravidão foi uma das grandes chagas da humanidade. Por 400 anos vivenciamos um estágio altamente racista. Mesmo que este fato tenha existido na história do Brasil, foi um tanto mal interpretada e contada, porque os relatos históricos sobre escravidão sempre vieram de historiadores brancos e escritores renomados, como José de Alencar. 

Até que dois historiadores estrangeiros (Krueger e Barkasis) tiveram a ideia da história ser contada através dos própios escravos. Fatos que foram ignorados, mas relatam casos de amor, conflito, e covardia como no conto da escrava Esperança Garcia. Negra católica e casada, pertencente ao capitão Antônio do Couto, havia escrito uma carta ao governador do Piauí. O motivo foi que Esperança queria reunir sua família novamente. Separada na casa de seu capitão com seu filho na casa de Couto, enquanto seu cônjuge permanecia com sua filha em uma fazenda de algodão.

“(...) Desde que o capitão para lá foi administrar, que me tirou da Fazenda dos Algodões, aonde vivia com meu marido, para ser cozinheira de sua casa, nela passo muito mal. Há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu, sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca, e em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo; por misericórdia de Deus, escapei. Estou eu e mais minhas parceiras por confessar há três anos, e uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a Vossa Senhoria, pelo amor de Deus e do seu Valimento, ponha aos olhos em mim e me mande para a fazenda aonde o capitão me tirou para eu viver com meu marido e poder batizar minha filha’’.

Por Rafael Bahia
Revisão: Ana Maria