Chicago, conhecida por seus incríveis arranha-céus, por seu avançado e moderno estilo de arquitetura e por se tornar um dos maiores destinos turísticos dos Estados Unidos, tem em seu passado lições de superação que podem nos ajudar a repensar o nosso próprio senso de comunidade.

A incrível cidade de Chicago, cercada pelo 5° maior lago de água potável do mundo (Lago Michigan), é uma cidade que hoje exibe sua inovação, cultura, diversidade e também sua aclamada arquitetura que conta com um dos mais notáveis arranha-céus já construídos. Mas o estado atual dessa viva e moderna cidade é o resultado das ações de uma comunidade unida e um sentimento indescritível de esperança e orgulho do lugar em que se vive. Mas… será que sempre foi assim?

O termo “Chicago” vem da palavra “Chicagoua”, nome dado aos tipos de cebolas com um odor - não tão bom assim -, que costumavam ser plantadas pelas primeiras tribos indígenas americanas que habitavam as regiões acerca do Rio de Chicago (Chicago River), bem no inicio da história da cidade, quando os primeiros colonizadores chegaram. Sua bandeira, reflete a sua história, desafios e eventos que fizeram com que a cidade se transformasse em um dos destinos mais populares dos Estados Unidos. Cada uma das 4 estrelas estampadas na bandeira carrega um significado diferente que marcou a história da cidade (Uma 5ª estrela seria adicionada se Chicago tivesse sediado as Olimpíadas de 2016). Mas, as 2 estrelas que mais se destacam, não pelo o seu formato tendo em vista que todas são idênticas, mas sim pelo seu significado são as duas estrelas do meio da bandeira.


No verão de 1871, era um dia quente e seco, condições incomuns para aquela época do ano e que levariam horas depois a cidade a conhecer um dos seus mais difíceis e marcantes momentos de sua trajetória. Apenas um pouco mais tarde que 9 horas da noite, do dia 8 de Outubro, Chicago enfrentaria o seu pior incêndio da historia, fazendo com que a cidade fosse destruída, chegando a tristes estatísticas:

- 300 pessoas mortas
- 100,000 pessoas sem abrigo
- 70,000 edifícios danificados e ruas completamente destruídas
- Prejuízo de 200 milhões de dólares

O incêndio, que até hoje se mantém um mistério pelos motivos que o causaram, foi o momento que destruiu o coração de uma cidade inteira e deixou milhares de famílias em situações precárias, mas que em um futuro faria com que a cidade se tornasse uma referência no mundo. Anos depois do acidente, arquitetos e engenheiros se reuniram para elaborar um plano que trouxesse a cidade de volta aos trilhos e que recuperasse o seu espírito, com isso eles acabariam apresentando novas tecnologias que ajudariam, anos mais tarde, a diminuir os riscos de incêndio em edifícios. Mas, segundo relatos de vítimas do afetadas pelo incêndio, o que trouxe Chicago de volta não foi somente os “mirabolantes” projetos de arquitetura, mas sim o espírito de união e solidariedade que foi gerado com o imprevisto e que seria anos mais tarde incentivado e enraizado na cultura da cidade.


Até mesmo dias depois do incêndio, a população foi às ruas e se ajudou uns aos outros no processo de reconstrução. Reforços foram chamados para ajudar, tendo em conta que os bombeiros da cidade não conseguiram controlar um incêndio daquela proporção, e famílias voluntárias se comprometeram a desempenhar cargos e funções que fizessem a cidade a trilhar o seu caminho. Dias e dias passavam e dessa vez, reforços de cidades vizinhas chegariam trazendo mais pessoas com o mesmo objetivo.

Anos mais tarde, em 1893, ainda se recuperando do trágico evento, Chicago seria sede da “World’s Columbian Exposition” onde disputou o direito de sediar a exposição com grandes cidades como Nova York, Washington DC e St. Louis. A feira teria como objetivo apresentar inovações nas áreas de arte, arquitetura, ciência e tecnologia. Seria o momento perfeito para atrair os olhos para a cidade e mostrar o exemplo de como Chicago se reergueu das cinzas. A exibição atraiu pessoas de 46 países diferentes, quebrando recordes e fazendo com que a exposição recebesse o título de evento ao ar livre com o maior número de público (751,026 pessoas no dia 9 de Outubro/1893) e mais de 27 milhões de pessoas durante os 6 meses de exposição, também o evento apresentou para o mundo novas técnicas de construção, novos estilos de prédios e até mesmo novos jeitos de entretenimento, como é o caso da atual “Roda Gigante de Chicago”, até hoje um dos mais visitados pontos turísticos da cidade, que fica localizada no Píer Naval, cercado pelo imenso Lago Michigan.


O sucesso da exposição seria tanto que uma nova estrela seria adicionada à bandeira da cidade como uma forma de lembrar como a união da população fez com que a cidade atingisse proporções impensáveis em meio ao até então recente incêndio. Hoje, com sua população diversificada marcada por imigrantes, a cidade é conhecida por oferecer um espaço para todo tipo de cultura, o que faz com que diversas vizinhanças surjam, sendo os mais notáveis grupos: Mexicanos, Italianos, Chineses, Gregos e Poloneses (maior população de poloneses fora da Polônia. Curitiba, no Brasil, é a segunda), o que faz com que a cidade ganhe o apelido de “Cidade das Vizinhanças", e também que tenha sua cultura, tradições e culinária influenciada por diferentes grupos.

Ainda com números assustadoramente altos quanto à corrupção no governo, Chicago enfrenta hoje tristes números quanto ao assunto violência e segregação, principalmente entre brancos, Afro-Americanos e Hispânicos. Em Outubro de 2015, o apelido de “Capital do tiroteio em massa da América” foi visto como um reflexo do alarmante número de homicídios e crimes. Em 2016, mais de 100 pessoas foram mortas somente nos primeiros dez dias do ano, fazendo com que demonstrações de solidariedade, exigências por um Departamento de Polícia mais justo e transparente, exigências por escolas menos segregadas fossem feitas. Mas… como uma cidade que enfrenta tamanhos problemas, ainda consegue se manter de pé e continuar mudando e resolvendo os seus desafios? Bem, a resposta exata para esses obstáculos podem ser bem mais complicada de se achar, mas o caminho, com certeza, está focado no histórico de união, solidariedade e vontade de mudança que a população vem exercendo e exigindo das autoridades desde o seu trágico passado.

Com suas demonstrações e protestos em pedido de uma cidade mais justa e com mais tolerância, Chicago pode não ser somente um exemplo de inovação e edifícios arquitetônicos e modernos que encantam a nossa imaginação, mas também aquele exemplo de como uma população unida e segura de suas demandas podem transformar um lugar inteiro e criar um ambiente positivo, para exercer o nosso básico direito de ser um cidadão em busca de mudanças para o espaço em que a gente tanto sonha e se orgulha de chamar de lar.


Matéria feita por Lucas Martins