Em meio a tantas celebrações, vitórias e sorrisos na Olimpíada de Paris, um gesto se fez maior. Sem ao menos usar palavras, a boxeadora Marcelat Sakobi Matshu falou por ela e por toda sua nação ao trazer à tona a grave crise de violência na República Democrática do Congo.


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A violência e suas profundas raízes 🌍🇨🇩
Após a sua derrota no boxe, a congolesa Marcelat Sakobi Matshu prendeu a atenção de todos os presentes ao protestar e apelar por paz em sua nação. O protesto veio de forma silenciosa, mas igualmente arrebatadora: com a mão em frente a boca e dois dedos na cabeça, simbolizando uma arma, a atleta denunciou a violência em seu país.

O ato foi inicialmente criado pelo atacante congolês Cédric Bakambu e busca chamar atenção para o conflito que assola sua pátria a mais de 20 anos!

O país, que tem em sua história duros traços de violência durante a colonização de Leopoldo II, nunca parou de lutar. Hoje em dia, há um constante combate contra o M23, uma milícia liderada pela etnia tutsi, que matatortura e desabriga milhões de pessoas anualmente. 

Pouco, ou quase nada, se fala na mídia sobre os congoleses que têm que lidar com esta realidade diariamente. A consequência de uma guerra civil entre grupos armados e o exército são abusos gravíssimos de direitos humanos, o que inclui sequestrosextorsão e violência sexual
Em fevereiro de 2024, Bintou Keita, Chefe da Missão da ONU em R.D.Congo pediu ajuda ao Conselho de Segurança para tentar evitar mais situações de violência, mas nada realmente eficaz é feito. São mais de 400 mil congoleses desabrigados e a falta de água potável e saneamento básico estão inflando o número de casos de cólera no país.
O mundo decidiu tampar os olhos para a situação do Congo. 

Mas se eles não vêm, o esporte grita.

Como dito anteriormente, Marcelat não foi a primeira atleta a levantar essa bandeira. Cédric, jogador pelo Betis, comemora gols com esse gesto desde fevereiro de 2022.
Ele inclusive tem uma fundação, criada em 2019, que tem o objetivo de ajudar a população da R.D.Congo e levar itens básicos que já se tornaram escassos, como água, alimentação e acesso à educação.



A República Democrática do Congo, que é tão rica em cultura e natureza, está devastada pelo sentimento de desesperança diante dessa carnificina. Por que essa pobreza e violência em um país com tanta riqueza?
Nada poderia explicar melhor do que a palavra "ganância". 
A exploração do Congo chegou após a colonização do Rei Leopoldo II da Bélgica. Junto a ele - não literalmente, pois o monarca nunca pôs os pés no país - veio o roubo da mão de obra, da borracha, do marfim e dos minerais da região nos anos 1800. Desde então, corporações internacionais continuam roubando e usufruindo das matérias primas encontradas na terra natal de Marcelat, e é isso que atrai guerras para o país.

Essa história é tão antiga que há jovens que nasceram na guerra, cresceram na guerra, vivem na guerra e alguns até mesmo já morreram nela.

Na República Democrática do Congo, duas décadas de violência transformaram o silêncio do mundo em cúmplice de uma tragédia esquecida.

Fontes:

REPÓRTER: Letícia Vieira 
REDATORA: Cleidyane Vieira