Andando pelas ruas de minha cidade, observei uma escola com um anuncio escrito: “Penso, logo, existo.”, sinceramente, eu não matricularia meu filho nesta escola.

Cogito Ergo Sum, no latim, percebemos que esta frase se escreve desta forma e apesar de Cogito poder representar varias outras interpretações dos verbos pensar, raciocinar, cogitar e outros equivalentes, Sum não significa “existir”, Sum significa “ser” e não tem outro significado similar, logo, a frase certa é: Penso, logo, sou e não o que todos pensam, o famoso: Penso logo existo.

A principio, você pode achar que isso é apenas um capricho fútil, porém, entre estas duas frases há uma diferença sutil e esta diferença sutil começa a se tornar muito grande quando aplicamos a teoria de onde ela veio. Para entender esta diferença, você só precisa abrir qualquer mapa.

Renato dos mapas ou Renatus Cartesius, mais conhecido como René Descartes, proferiu esta tão famosa frase e até hoje existe uma grande discussão se ele proferiu ou se apenas escreveu está frase, mas isto não vem ao caso agora, a questão principal é, esta idéia é dele e através deste texto irei tentar explicar como esta idéia surgiu.

Descartes além de ser um grande matemático, uma das pessoas que criou uma das maiores contribuições da historia da matemática que foi o eixo cartesiano, ele também foi um filosofo e ele assim como muitos outros filósofos da época, era muito avançado para o seu tempo. René Descartes acreditava que a razão era absolutamente poluída nos seres humanos, os mesmos não conseguiam pensar usando exclusivamente a razão e ele também acreditava que a razão era a chave para o conhecimento real e todas as coisas que nós abstraiamos e imaginávamos, na verdade estavam erradas e contaminadas por dogmas, crendices e mais um universo de coisas que não eram a razão pura, René Descartes era um filosofo que pregava a razão pura. A forma que ele pensou para “despoluir” a razão era bem simples, peço desculpas aos filósofos pelo que eu irei dizer agora, mas Descartes usou um método muito similar a aporia socrática, ele se questionou sobre todas as coisas que ele achava saber até chegar a uma verdade fundamental(o que o diferencia da aporia socráticas onde a conclusão em que se chega é que a única coisa que se sabe, é que nada sabe.), René Descartes chegou ao estado da verdade fundamental, no entanto, antes de chegar a uma verdade fundamental, ele chegou na pergunta fundamental: “O que me garante que eu existo? O que me garante que tudo isso que estou vivendo e todas as pessoas que vejo, não passa da minha imaginação?” e ele chegou a uma resposta: “Mesmo que isso tudo esteja acontecendo na minha imaginação, se tudo está acontecendo na minha cabeça, significa que eu penso e se eu penso, eu sou um ser que pensa, se eu penso, logo, sou um ser que pensa.” E neste momento, Descartes proferiu sua famosa frase “Penso, logo, sou.” Como também dizia e separava o mundo em dois estados: Os seres e os não seres.

Se você achou que isto estava suficientemente complicado, você vai se surpreender agora.

Os Seres e Não Seres, o que são eles? Bem, esta pergunta é fácil de se responder, um ser é tudo aquilo que é e um Não Ser é tudo aquilo que não é. Neste momento você deve estar pensando que isto era obvio demais para ser valido como resposta, mas tenha calma, não é tão obvio quanto pode estar parecendo, um ser, é tudo aquilo que pode ser definido, eu sou um repórter, você é um leitor do InterculturalNews ou não, talvez você seja apenas alguém que está lendo esta matéria mas continua sendo alguém, esta coisa de frente pra mim(mesmo que você não esteja vendo), é um computador e apoiando meu computador está uma mesa de centro e tudo isso está perfeitamente determinado. Já o não ser, não é absolutamente nada, a característica do Não Ser é não poder ser definido e não ter uma essência e aí fica tão clara a diferença entre “Penso, logo, sou” e “Penso, logo, existo”, que é: Coisas que não existem, podem Ser. Um unicórnio é, ele é um cavalo com chifres, mas ele ainda é, pois você pode defini-lo, se um dia, a ciência for longe o suficiente para construir uma maquina que cria animais da nossa imaginação, nós poderemos criar um unicórnio, porque ele já é, porém, nós nunca poderemos criar um Não Ser, simplesmente porque ele não tem essência, simplesmente porque ele não é.

Aqui eu respondo a pergunta fundamental desta matéria, “Qual é o limite da imaginação?”, Descartes já respondeu e definiu pra gente e definiu pra gente o que a nossa imaginação compreende e o que ela não compreende e eu irei por a situação limite aqui:

Nossa imaginação compreende o ser, nossa imaginação entende tudo que é, porém, ela não compreende o não ser, nós não conseguimos compreender tudo aquilo que não é. Isso significa que nossa imaginação é limitada? Não! Muito pelo contrario, nossa imaginação é verdadeiramente infinita, pois o conjunto de seres é infinito, façamos um experimento para provar como o conjunto de Seres é infinito:

Pense no maior numero que você puder imaginar, dependendo da sua noção matemática, o numero que você pensou pode ser bem grande, porém, é só você somar mais um que este numero já não é o maior que você pensou e desta forma, você pode realizar este processo para sempre e você sempre vai conseguir pensar em outro numero. Através disso, percebemos que assim como nossa habilidade de pensar em números diversificados, nossa imaginação também é infinita, pois nossa mente sempre conseguirá fazer junções e acrescentar pensamentos, idéias e ideais e criar novos seres.

No entanto, eu não sei, você não sabe(caso saiba, divulgue isso para o mundo, pois você fez uma descoberta muito importante) e caso Descartes tenha descoberto, simplesmente resolveu não nos contar como é o conjunto dos Não Seres, não sabemos se é um conjunto unitário, um conjunto vazio ou um conjunto infinito, nós simplesmente não sabemos e não temos como saber o tamanho do conjuntos dos Não Seres justamente porque ele não está dentro de nossa imaginação. O limite da imaginação é o Não Ser, aquilo que não é, nós nunca conseguiremos imaginar.

No entanto, há outra situação limite que se você for uma pessoa parecida comigo, nunca irá esquecer disto e provavelmente vai anos da sua vida para responder, a situação limite é:

Existem coisas que são simplesmente o que elas são. Elas são por definição e caso você esteja se perguntando que tipo de coisas são essas, irei dar um exemplo: Uma cor. As cores são o que são por simples definição, você consegue explicar uma cor como complemento de onda e varias outras coisas, você consegue associar uma cor e fazer analogias como “Vermelho é calor”, “Azul é frio”, porém, você não consegue explicar uma cor sem dizer que ela é uma cor, ou seja, azul é simplesmente azul, ele é um complemento de onda? Sim, ele é um complemento de onda, porém, você conseguiria explicar para um cego o que é azul só dizendo pra ele qual é o complemento de onda que a cor representa? É evidente que não. O azul é o que o azul é, o vermelho é o que o vermelho é e essa é a situação limite.

Acredito que o maior momento da comunicação da humanidade vai ser quando conseguirmos explicar uma cor para um cego, quando nós fizermos um cego entender o que é uma cor só falando pra ele, esse momento a comunicação terá chegado ao marco principal.

Talvez você fique triste como eu fiquei quando terminei este estudo e descobri que existe um universo de coisas que eu nunca imaginarei, mas pense bem, existe um universo infinito de coisas perfeitamente imagináveis que ninguém imaginou ainda e quem sabe não é você que irá imaginá-las?

Escrito por João Marcos.